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Guarapuava entra no circuito do patrimônio imaterial no Iphan

29/09/2014

A influência dos africanos e seus descendentes é marcante na música, dança e culinária brasileiras. E, em Guarapuava, também existem marcas dessa cultura. E, para registrar todo o patrimônio imaterial da cultura negra no município, uma consultora da Unesco e um historiador do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) estiveram em Guarapuava, na última sexta-feira (26), para fazer o registro do Clube Rio Branco. Com o cadastramento do Clube, Guarapuava entra no circuito do patrimônio imaterial no Iphan. “As marcas culturais de nossa cidade são o reflexo do potencial que temos em Guarapuava. Somos ricos em cultura, temos uma gente hospitaleira e, a cada dia, os novos investimentos reafirmam o novo momento em que vive Guarapuava”, comenta o prefeito Cesar Silvestri Filho.

O registro do Clube Rio Branco faz parte do mapeamento dos clubes sociais negros do Paraná é foi feito pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que tem um departamento específico para cuidar da preservação do patrimônio cultural imaterial brasileiro. “Quando pensamos no patrimônio imaterial, vemos que a contribuição negra nas práticas artísticas e culturais foi extremamente importante. A expressões culturais eram transmitidas oralmente, não havia documentação, e se não fosse a transmissão oral teriam se perdido”, ressalta Márcia Sant’Anna, diretora do Departamento do Patrimônio Imaterial do Iphan.

O Clube Rio Branco foi fundado em 1919 por Bento José da Silva e hoje guarda um patrimônio histórico cultural inigualável. “Tenho um grande carinho com o clube devido ao meu pai, pois ele trabalhou muito por ele. Fui aprendendo a dar valor a minha cor, cruzei várias barreiras, mas conquistei o respeito de todos”, comenta Josoel de Freitas, mais conhecido como Seu Tuto, um dos pioneiros da cultura negra em Guarapuava e filho do fundador do Clube Rio Branco.

De acordo com o historiador do Iphan, Juliano Martins Doberstein, o Clube Rio Branco, em Guarapuava, não se destaca apenas pelos objetos de sua história, mas também pela preservação de seus documentos. “Estamos iniciando o mapeamento dos clubes sociais negros e conversando com representantes. A preservação dos documentos do Clube Rio Branco gera um contraste com a situação que encontramos em outros clubes, onde toda documentação acabou se dispersando ou até mesmo se perdendo. Notamos que Seu Tuto está realmente preservando e mantendo tudo muito bem organizado por aqui”.

Para Carlos Eduardo Burkhard, do Departamento de Projetos Culturais do Clube, o registro no Iphan é um reconhecimento pela cultura negra em Guarapuava, além disso, agora, o município também será referência como uma das cidades do Paraná que preservam a memória da sociedade negra. “Por toda história que o Clube Rio Branco possui, me vejo na obrigação de manter as lembranças e não deixar com que se percam”.

Registro dos Clubes no Paraná

Os registros dos Clubes, feito pelo Iphan, acontecem normalmente com um pedido e, em 2009, a pesquisadora Giane Vargas começou a estudar para seu mestrado e doutorado levantando a história do Clube 13 de Maio em Santa Maria (RS). A pesquisadora também fez um mapeamento parcial dos clubes sociais negros daquela região e, no mesmo período descobriu que as pesquisas, relacionadas ao patrimônio imaterial, também aconteciam no Clube 13 de Maio, em Curitiba. “Quando foi registrado o pedido para a patrimonialização do Clube 13 de Maio (RS), a SEPPIR (Secretaria Especial da Presidência de Promoção de Igualdade Racial) e o Iphan, entenderam que seria interessante pensar em outros clubes. Inicialmente sabíamos da existência de 20 clubes no Rio Grande do Sul e, a partir deste pedido, pensamos também na possibilidade de um mapeamento nacional, que hoje está sendo realizado através da Unesco, SEPPIR, Fundação Palmares e Iphan”, explica a antropóloga e consultora da Unesco, Geslline Giovana Braga, que também fala sobre o processo de registro. “Estamos iniciando o processo de mapeamento no Paraná, onde sabemos da existência de cinco clubes. O registro implica no processo de salvaguarda, que são estruturas criadas através destas instituições, garantindo a continuidade destes clubes. Após o término do mapeamento, faremos um encontro estadual e nacional, proporcionando trocas de experiências e de ideias entre os guardiões da cultura negra no Brasil”, conclui.

Histórico do Clube Rio Branco

Em 19 de setembro de 1919 foi feito um pedido, ao prefeito municipal, na época Solano Alves de Camargo, a transferência de 10 metros de terreno pertencente à Anna Teixeira dos Santos, para formação da sede do Clube Rio Branco. O Clube foi fundado em 28 de setembro de 1919 e situava-se na Rua Coronel Saldanha, nº 2071, com a finalidade de oferecer festividade e um lugar de encontro para a comunidade, oferecendo atividades recreativas e de lazer. Gabriel Hugo Ribas, presidente do clube, requereu do prefeito municipal, no dia 23 de janeiro de 1924, o alinhamento e a aprovação da planta para a construção do prédio da sociedade, onde, anualmente, era realizado o Baile da Primavera, com eleição da rainha.

A administração do Clube Rio Branco era feita através de uma diretoria, eleita anualmente. Para associar-se, precisava ser maior de 18 anos, ter boa conduta e ser apresentado por três sócios. Era dever da diretoria convocar duas assembleias gerais por ano, e assumir os compromissos em nome do clube. Os sócios reuniam-se em assembleias gerais sempre no dia 28 de setembro de cada ano, para comemorar o aniversário do clube. O fundo social era formado por joias, mensalidades, donativos e todas as rendas adquiridas.

O objetivo do Clube Rio Branco, atualmente, é oferecer um espaço cultural, social e recreativo, resgatando as raízes da cultura negra. Porém, o Clube não funciona há 10 anos, pois sua sede está estagnada, por uma questão de ação judicial. De acordo com Carlos Eduardo Burkhard, do Departamento de Projetos Culturais do Clube, “até o primeiro semestre de 2015 tudo deve estar resolvido. Com nova diretoria e com parcerias vamos retomar os projetos do Clube Rio Branco”.

Clubes Sociais Negros do Paraná

Clube Estrela da Manhã – Tibagi

Sociedade 13 de Maio – Ponta Grossa

Clube Rio Branco – Guarapuava

Sociedade 13 de Maio – Curitiba (3ª mais antiga do Brasil)

Clube Arol – Londrina (não existe mais a sede do clube, mas existem bailes relativos à memória e pesquisas em torno desse espaço).